Levando Tudo Errado Para o Lado Sujo da Coisa


*Texto de Nelson Alexandre

A respeito das coisas erradas, (entenda-se “coisas erradas” como: lesar o próximo, trair amigos, ser dissimulado, falso e “acariciar” os companheiros de trabalho com o verdadeiro intuito de apunhalá-los pelas costas etc.) eu não sou lá um grande especialista. Sou honesto e encruado. Trabalho com Ficção e só. Sou quase um caranguejo que se enfia na areia e só sai de lá se capturado e retirado a muito custo. 

Mas ontem, com a chuva que caiu, aqui, em minha cidade, deu para ter uma amostra das sereias que me rodeiam e consequentemente da humanidade da parte de cima que as mesmas possuem e da metade de peixe da parte de baixo. 

Mutações se embolam com o vento na curva das más interpretações. 

Já fui “condecorado” com diversos rótulos que simplesmente me fizeram rir e também chorar. 

Minha história de vida se mistura como uma receita de bolo de fubá com vidro moído dentro. 

No princípio eu era (ainda sou?) um carinha que ficava olhando pra baixo pra não encarar ninguém que tivesse a ousadia de me dizer: “O quê que tá olhando aí?” Era uma espécie de imã para atrair confusão e também algumas garotas especiais que me distanciavam das piriguetes que só usavam a gente por um tempo e depois davam um clássico pé na bunda assim que a fumaça da aparência física se dissipava e a personalidade forte aparecia como um café caboclo passado em coador de pano. 

Se eu dissesse que a maioria das mulheres são manipuladoras e materialistas, e que o amor que elas tanto reivindicam nunca está desvinculado da segurança de uma casa confortável e um emprego escravizante, com certeza, eu me tornaria uma garrafa de cerveja que receberia o rótulo de MISÓGINO. 

Se eu dissesse que os homens são mais inteligentes que as mulheres porque tem tantos milhões de neurônios a mais de que o sexo feminino, e que o Rodrigo Santoro é mais bonito do que eu, aí eu receberia a marca de VIADO. 

E como eu sempre digo o que penso, (e temos exemplos contundentes de que esses seres que ousam pensar têm sempre as cabeças exposta numa bandeja de prata segurada por uma putinha gostosa que deixou algum rei de pau duro e com os miolos morando nos testículos.) sempre levo na cabeça ou sou impiedosamente boicotado. 

A segregação mora em locas de cascudo, nos guetos da Universidade Estadual de Maringá, dentro do lar, no estádio de futebol, no trabalho e principalmente na Love Street. 

E por falar em Love Street, escrevi esse poema para a minha namorada imaginária que se chama Simbiquira: 

COISINHA

Ela anda por aí sem assinar promissórias de amor
Ela confessa seus pecados sem ter cometido nenhum
Ela abre corações com uma faca cega
E me faz virar um deus asteca
Que cospe fogo e enxofre.
Ela nunca morou na rua do amor
Ela preferiu me buscar no beco das ilusões perdidas
Onde homens dividem garrafas sujas
E pardais reclamam de cantos
Desafinados.
Ela anda por aí
Sem se preocupar com as sinfônicas de Mozart
Ouvindo Radio Head
E mascando chiclete.
Mascando meu passado e meu futuro
Naquela boca que nunca mais
Vou beijar. 

Mas como eu ia dizendo, (do que eu tava falando, porra!!!) ah... Salomé, essa figura histórica que gostava de rebolar o bumbum bem antes das funkeiras da vida, foi um grande exemplo de como nós homens levamos a razão da cabeça às bolas em poucos milésimos de segundos e detonamos o pensador anárquico que vive por aí, sem dó e sem piedade.

Vagamos sós pelo deserto?

Segundo meu guia espiritual “Gregório de Matos e Guerra”, a possibilidade de alguém como eu conseguir alguma coisa “material” escrevendo textos desse tipo é a mesma chance do Grêmio Maringá voltar à ativa, subir da terceira divisão para a segunda e, consequentemente, à primeira e ser campeão paranaense novamente.

Dá pra sentir o drama da trajetória crepuscular do poetinha que vive entre os municípios paranaenses de Sarandi e Maringá?

Essas duas cidades são como irmãos siameses, grudados, sem mais divisas físicas que as separem, sem Salomés decepando a cabeça dos membros.

Acho que eu vou tomar uma cerveja e ficar sentado olhando pro chão como eu fazia, (faço?) fingindo que não ouvia aquele merdinha dizendo: “O quê que tá olhando aí?” Afinal de contas eu tava olhando sim, mas não era pra namorada dele, o merdinha não sabia que eu tava olhando era para o nada. E só.

E tem mais:

Antes do caos
Antes do que vai pintar
Eu escrevi esse poema
Que muitos vão ler, rir
E talvez até chorar

Ler é pra qualquer um
Entender
Já não garanto
Já que o mais difícil
É saber interpretar

Antes do caos
Antes do fim
Eu digo
Isso não veio do nada
Isso veio de mim. 


Mas eu pensava nas reboladas daquela putinha da Salomé e no pobre João Batista (ou na cabeça dele) com a língua de fora, enquanto o meu olhar penetrava no asfalto quente e a cervejinha descia pela garganta. Ou era eu a garrafa de cerveja? 

Sei lá. 

Mas o que eu tô querendo dizer é que nem tudo na vida deve ser levado pro lado sujo da coisa. Já existe muita sujeira boiando perto da boca da gente e os ratos estão saindo por todos os buracos existentes do planeta. 

Eu sei que muita gente que vem até aqui, neste blog, deve ficar horrorizada e também deslumbrada com muita coisa que já foi escrita e publicada, pois nem todo mundo consegue desvincular obra e autor. Às vezes as interpretações anônimas dos leitores ficam como aquele bolo de fubá que citei no início desse texto, doces, mas perigosamente cheias de cacos de vidros pontiagudos. 

Fiquem frios, há outros blogs que vocês (digo isso para os que estão horrorizados, bem observado, sim!?) podem acessar que vão explorar assuntos mais adequados a cada perfil mais delicado ou com estômagos mais frágeis. 

Aqui, Salomé também dança, mas posso garantir que a minha cabeça está bem colada no lugar.

2 comentários:

Anônimo disse...

ecrever é como fazer um auto-retrato de outras pessoas..
PS. não sei a gramática nova..di

Nelson Alexandre disse...

ou de algo imaginado, trabalhodo e idealizado. ficção.