* Hygor Zorak
- Setembro de 1995.
- Outubro de 1996.
- Janeiro de 1997.
- Entre outras datas.
- Mas a quê você está se referindo?
- A nada em especial.
- Então porque a importância das datas?
- Não tem importância, eu só queria dizê-las.
- 1997 realmente foi um ano complicado e tumultuado pra você.
- Não, não foi. E cale a boca!
- Não quis te incomodar, e nem quero, mas você tem que concordar que aquela foi uma data complicada!
- Cale a boca!
- Posso até calar, mas só se você assumir que foi um ano complicado!
Ouve-se dois tiros, uma porta batendo e o cantar dos pneus da pick up vermelha que todas as sextas a noite estava naquele mesmo lugar.
Sirenes e gritos.
As pessoas afobadas queriam ver o que havia acontecido no apartamento nove da Rua dos Saltos, mas a polícia insistia em afastar os curiosos, que em sua maioria não passavam de vizinhos que, na realidade, já tinham uma nítida impressão do que havia acontecido.
- Policial, que aconteceu?
- Ainda não temos o boletim oficial senhor. Os peritos estão lá dentro.
- Noticiaram dois tiros. Quantas mortes?
Ouve-se mais dois tiros, mais gritos e outro cantar de pneus.
- Que diabos foi isso agora?
- Mais dois tiros senhor!
- Isso eu sei!
- Desculpe senhor!
- Vai busca café pra mim!
- Não posso senhor!
- Como?
- Eu disse que não posso senhor!
- Isso eu entendi, mas por quê?
Uma mulher grita desesperadamente, saindo de um dos prédios da Rua dos Saltos falando que o fim estava próximo e que ela não tinha muito tempo!
- Dessa forma vou acreditar na mulher...
- É impossível isso senhor! Ela é a chamada louca institucional do bairro! Sempre fala isso quando acontece alguma coisa estranha... Senhor!
- Quantos anos você tem?
- Como senhor?
- Exatamente o que ouviu!
- 28, senhor!
- Seria uma pena se morresse tão jovem...
- Senhor?
Os peritos demovam a sair, deixando os policiais e os populares irritados e ansiosos, até que se ouve um grito estarrecedor de dentro do apartamento.
- Que foi isso?
- Ai meu Deus, o que está acontecendo?
- É o final dos tempos!
- Vamos entrar! Vocês dois vem comigo!
O comandante da operação e os dois policiais entraram no apartamento nove e se depararam com dois corpos sentados em torno de uma mesa, com as cabeças apoiadas nela. Os corpos dos cinco peritos também estavam lá, mas estendidos uniformemente no chão. Todos mortos.
- O que aconteceu aqui dentro?
- Como eles morreram?
Um dos policiais se sentou numa cadeira e ficou a se balançar, entrando em desespero
- Policial!
- Policial? Está tudo bem?
- Não! Não! Não!
- O que você tem?
- Eu vou morrer... Todos vão morrer...
- Não se desespere. Vá lá fora tomar um ar.
- Não posso...
O policial caiu da cadeira inerte. O comandante da operação e o outro policial correram para ver o que havia acontecido e, o policial estava morto.
- Senhor... Tenho que ir embora!
- O que está falando?
- Minha esposa falou que isso ia acontecer e que eu não iria vê-la novamente.
- Falou o que?
O policial despencou morto no chão. O comandante, assustado, caminhou perplexo até a porta, que se fechou bruscamente na sua frente.
Desespero.
O comandante de policia, após tentar abrir a porta se voltou para o interior do apartamento e não viu nada além da mobília limpa, do chão limpo, tudo limpo. Então entrou um homem caminhando calmamente.
- Quem é você?
- Janeiro de 1991
- Fevereiro de 1992
- Maio de 1993
- O que você está fazendo?
- Calma. Ainda não acertamos a data.
- Data de que? O que está acontecendo?
- Junho de 1994
- Setembro de 1995
- Porque importa essas datas? Do que está falando?
- As datas não são importantes.
- Agosto de 1996.
- Então porque está falando elas?
- Outubro de 1996.
- Não há razão especial. Eu só queria dizê-las. Mas nós não definimos ainda uma data...
- Nós quem? Data pra quê?
- Janeiro de 1997.
O comandante ficou enfurecido e parte pra cima do homem, que grita e caindo no chão se desmancha em cinzas.
- Muito desrespeitoso não deixar o homem achar a data certa?
- Quem é você?
- 1997 realmente foi um ano complicado e tumultuado pra você.
- Não, não foi! Do que está falando?
- Não quero te incomodar, mas você tem que concordar que aquela foi uma data complicada!
- O que você quer? Onde estou?
- Estamos escolhendo uma data. Mas você é resistente a isso.
- Diabos, data pra quê?
- Julho de 1998. Não. Novembro de 1999.
Dois tiros são disparados.
A polícia derrubou a porta do apartamento e entrou no apartamento, encontrando o comandante de polícia com uma arma na mão e dois de seus policiais mortos no chão. Eles haviam sido alvejados pela arma do comandante.
Então ele foi levado preso e, quando saia, viu uma pick-up vermelha sair cantando o pneu.
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