Agosto ficou para trás como um barco afundando. E posso dizer que nesse embarcação furada, o capitão Nelson morreu afogado, ficou apenas o ingênuo e interiorano Alexandre, à deriva, olhando a imensidão do mar e com força para nadar até encontrar alguma praia para não ser devorado pelos tubarões. Mas antes da embarcação afundar, na noite anterior ao fatídico acidente, (o navio foi atacado por leviatã) Alexandre teve um sonho... Viu-se fundido com ele mesmo, como gêmeos siameses, e claro, um deles era o famigerado escritor, capitão, beberrão e colérico Nelson, que não poupava "elogios" ao irmão Alexandre, frágil, amoroso, piedoso e romântico. Alexandre vivia à mercê dos gostos de Nelson, que eram em sua maioria, como as imagens de Hyeronimus Bosch elaboradas num curta metragem sem título e sem estreia prevista nos cinemas. No sonho, Alexandre, encarcerado nessa confusão de identidade, ora ele, ora Nelson, orou com toda força para que um anjo luminoso com uma espada afiada o libertasse do Maldito escritor Nelson, que não o deixava livre para seguir seu caminho e finalmente dizer que estava livre de seus vícios e mau humor. Foi quando uma imensa nave rasgou o zênite perdido de sua esperança, e de dentro dela, saiu o anjo, de asas cegamente alvas que decepou a cabeça do maldito Nelson e libertou o frágil Alexandre, dizendo uma única frase: "Espere por mim".
E passando praticamente um tempo cronologicamente impossível de ser medido, à deriva, com fome, sede, saudade, ele esperou, esperou, esperou... Até que seus olhos avistaram uma ilha paradisíaca. Areia alva. Palmeiras. Coqueiros. E até mesmo uma linda e reconfortante cascata que jorrava água doce para mitigar a sede de outrora. Bebeu da água e viu o anjo, que saiu de seu estômago ulcerado e, com olhos apaixonados disse ao moribundo: "Sou mulher e sou tua". Encontrado anos depois numa praia de Santos, dentro de uma garrafa de merlot, um bilhete tinha o seguinte dizer: "Que venha a primavera, inverno aqui, não há mais..."
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