Sheila chocolate


Favor ler ouvindo Blue in Green by ou My Funny Valentine
De Miles Davis
 
Foto por: Cíntia Augusta - City2
Ela faz convites que ele não poderia recusar
Ser firme na palavra
É ser firme na vida
Ele pensa
Enquanto caminha em direção ao velho carro
Observando o fluxo de pessoas
A seu lado.
Grandes nações caíram por conta
De um bom par de pernas
E um desenho esguio
E maravilhoso
Do corpo.
A cobra do paraíso desliza
Sedutoramente pelo seu pescoço
Faz seu braço engatar a marcha errada
Faz com que o sinal vermelho
Fique verde
E faz com que ele
Crie um pequeno jardim de delícias
Dentro da cabeça
Que recebe uma coroa de um reino proibido.
Jambo selvagem
Chocolate virgem
Calda de prazeres
Essa mistura doce é a inscrição
Na porta desse reino que não pertence
A ele e que o tenta.
Ele pensa em ligar o som do carro
Mas o som é de uma voz que diz:
“Abra a porta da casa dos prazeres”
Ele transpira carbono e libido
Combustão que o mela de ansiedade
Na rua da indecisão.
Um homem usando camisa preta
E com um certo ar de desistência
Da maioria das coisas
O interroga na porta do reino proibido
Diz que se seus pés seguirem mais um passo
Adiante
Ele embarcará numa história de sexo
Sexo
Sexo
Sexo
Nesse trampolim de prazer
O amor tem que ser deixado pendurado
Do lado de fora
Como um cordeiro no gancho
Do açougueiro.
Sheila chocolate
Dança num palco
Onde uma pequena banda
Toca por bebida e alguns trocados
Sheila faz crônica sobre suas vítimas
Escreve poemas e os tatua em suas costas
Ela tece a teia de aracne presa dentro de um dvd pirata
Sheila chocolate é um filme autoral que não pode ser visto por menores
Pequena e insólita história trancada dentro de uma caixinha de segredos.
Ele caminha por cima dos ladrilhos
Da estrada pavimentada
E pensa em sua pequena Dorothy
Ele precisa de um cérebro
De um coração
E de coragem
Pra enfrentar a bruxa
Em sua vassoura.
Não!
Ele diz
Preciso apenas de uma cerveja
Um pouco de ingenuidade roubada da infância
E eu vou ficar legal
“Toque o piano, Sam!”
Suas mãos de cacau deslizam
por um rosto barbeado
uma cara limpa pra receber as porradas da vida
mãos de chocolate pra amargar a felicidade
“A felicidade, aqui, tem taxímetro, my dear”
Ela sussurra em seu ouvido como
Se cuspisse um filete de lâminas afiadas
“Mais um som!”
A música ecoa por uma caverna cerebral
O cigarro queima as lembranças do avental
E do buquê de tulipas
Eles dançam
Sheila chocolate
Rainha dos pecaminosos
Musa dos abandonados
Cinquenta centavos na caixinha dos músicos
mixaria
Pra uma dança mortal.

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