Passou em frente à lotérica e quis metralhar todo mundo


Passou em frente a uma casa lotérica e percebeu considerável fila invadindo a calçada do estabelecimento. Pessoas com alguns papéis nas mãos e com caras de poucos amigos. Raciocinou e se recordou que era dia 20 do mês, data em que muitos recebem um adiantamento do salário. Estariam pagando as contas? Ou seria a Mega Sena, prometendo pagar, no dia seguinte, quase R$ 50 milhões? Por uma fração de segundos, vacilou, sentiu sua pressão cair, não controlou bem seus pensamentos e quase pegou no banco de trás do carro a metralhadora que acabara de utilizar, não fazia nem vinte minutos, em um assalto à banco. Em uma rajada de balas só, veria corpos caindo ao chão e papéis picotados de documentos, que já não valeriam mais nada, flutuando no ar. Depois do som ensurdecedor causado pelos trovões de sua arma, sairia dirigindo tranquilamente pela ruas, ao som de um velho e bom blues. Ao ouvir a buzina do carro de trás, meio sonolento e assustado, sentiu um calafrio e quase afogou o carro ao pisar no acelerador vacilante. Em poucos minutos, conseguiu se livrar daqueles pensamentos tórridos e também do trânsito caótico. Já na rodovia, sentiu a refrescância do vento batendo em sua cara, momento em que notou que havia suado frio e que poderia estar com um princípio de febre. Acendeu o último cigarro do maço e se deixou levar pela sonoridade da música enquanto olhava as plantações de milho ao lado e imaginava o quanto seria bom ter uma garrafinha gelada de refrigerante para beber. Parou em um posto de gasolina para comprar uma lata de Coca-cola. Já com a lata na mão, destravando o alarme do carro, quase não conseguiu controlar a bambeada de suas pernas ao ver, bem ao lado do seu carro, um viatura da polícia. Nada fez, o enfardado. Apenas se concentrava no ato de devorar um cachorro quente melecado de mostarda e catchup, que parecia já ter sujado seu uniforme. Devagar, nem sabe como conseguiu entrar e ligar o carro. Saiu. Olhou para trás. Olhou para a frente. Nada nem ninguém, a não ser o asfalto eterno, o acompanhava. Começou a rir alucinadamente! Tomou sua lata de refri quase quê de um gole só e acelerou o seu Gran Torino 72.

Nenhum comentário: