*Thaís Tereciano
Lembro de você bagunçando a minha franja e contando as pintinhas do meu rosto só pra me irritar.
Lembro do cheiro das suas roupas, das covinhas que formavam enquanto você sorria, dos seus joelhos fracos e tortos por causa de um pequeno incidente no futebol e do medo que eu sentia de te dar as mãos e de não conseguir me soltar nunca mais.
Lembro do dia em que você me viu de batom vermelho e tentou me convencer de que eu ficava linda sem maquiagem. Nesse mesmo dia você me contou o seu maior segredo: sabia de quem gostar, só não sabia continuar gostando.
Lembro dos nossos desastres culinários, da irritação que te causava o barulho do secador, da sua indecisão na hora de escolher o que comer, da minha falta de entusiasmo em ser a sua companheira de corrida no parque e da primeira vez que você deixou que eu colocasse as minhas músicas esquisitas no seu ipod.
Lembro das camisetas que te ajudei a comprar, do Saramago que te emprestei e que você fingiu ter lido, do London Calling que peguei e não devolvi e do dia em que, meio bêbado e cheio de sono, você disse que me amava.
Lembro das brigas compradas por mixaria e das discussões estendidas até que um saísse amuado e com o coração em pedacinhos. A gente não tinha mudado em nada e, ainda assim, não conseguia se reconhecer.
Lembro do abraço de até logo com gosto e cheiro de adeus.
Lembro de ter cansado de insistir antes mesmo de você perceber.
Lembro de ter juntado todos os motivos pra me decidir, mesmo sabendo que bastava um só.
Lembro de ter sentido a sua falta durante anos.
Lembro de ter duvidado de que, um dia, eu conseguiria te esquecer.
...
Eu não tenho tido crises alérgicas, ainda não perdi o medo de dirigir e passei a usar três tipos de creme pro rosto, uma vez de manhã e outra à noite, todo santo dia. Dá pra acreditar?
Sei que todo mundo tem uma lista gigante de virtudes, mas quanto mais velha fico, mais privilegio a bondade. Quero pessoas de bom coração perto de mim.
Tenho tido problemas na hora de dormir. Eu sinto falta de desejar coisas bobas, coisas do tipo ter uma piscina cheia de jujubas e mm´s no fundo de casa. Lembra do dia em que eu te contei que sonhava em morar no quarteirão da escola, só pra poder acordar cinco minutos antes da aula começar?
Tenho a impressão de que, de um modo geral, tá mais difícil de amar e de confiar. Eu sinto falta daquela época boa em que, pra alguém gostar da gente, bastava chegar bem pertinho e dividir o brinquedo. A gente dizia o nome, emprestava o giz de cera, repartia o chiclete no dente e, com as mãos, partia o chocolate. Quer brincar na minha casa depois do colégio? Pronto. Nascia uma amizade.
E não importava se o amiguinho morava longe, se frequentava o mesmo clube, se gostava das mesmas coisas ou se usava roupas finas. Não fazia diferença o fato dele ser loiro, moreno, careca, cabeludo, rei, ladrão, polícia ou capitão.
Porque a gente sentava ao lado dos novos amigos e falava sobre nuvens, desenhos, doces e jogos, e isso tudo sem julgar, sem calar e sem mandar.
Porque em meio às canetinhas coloridas e às tesouras sem ponta existiam cartas e bilhetinhos caprichados na sinceridade e nas dobraduras.
Porque a gente fazia o que sentia que tinha que fazer, e não o que deveria.
Porque não existia falta de tempo, falta de grana ou medo do futuro.
Porque união e fidelidade existiam sem que a gente soubesse o significado dessas palavras.
Porque ninguém tinha pressa pra viver e pra ser feliz.
.
Lembro do cheiro das suas roupas, das covinhas que formavam enquanto você sorria, dos seus joelhos fracos e tortos por causa de um pequeno incidente no futebol e do medo que eu sentia de te dar as mãos e de não conseguir me soltar nunca mais.
Lembro do dia em que você me viu de batom vermelho e tentou me convencer de que eu ficava linda sem maquiagem. Nesse mesmo dia você me contou o seu maior segredo: sabia de quem gostar, só não sabia continuar gostando.
Lembro dos nossos desastres culinários, da irritação que te causava o barulho do secador, da sua indecisão na hora de escolher o que comer, da minha falta de entusiasmo em ser a sua companheira de corrida no parque e da primeira vez que você deixou que eu colocasse as minhas músicas esquisitas no seu ipod.
Lembro das camisetas que te ajudei a comprar, do Saramago que te emprestei e que você fingiu ter lido, do London Calling que peguei e não devolvi e do dia em que, meio bêbado e cheio de sono, você disse que me amava.
Lembro das brigas compradas por mixaria e das discussões estendidas até que um saísse amuado e com o coração em pedacinhos. A gente não tinha mudado em nada e, ainda assim, não conseguia se reconhecer.
Lembro do abraço de até logo com gosto e cheiro de adeus.
Lembro de ter cansado de insistir antes mesmo de você perceber.
Lembro de ter juntado todos os motivos pra me decidir, mesmo sabendo que bastava um só.
Lembro de ter sentido a sua falta durante anos.
Lembro de ter duvidado de que, um dia, eu conseguiria te esquecer.
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Eu não tenho tido crises alérgicas, ainda não perdi o medo de dirigir e passei a usar três tipos de creme pro rosto, uma vez de manhã e outra à noite, todo santo dia. Dá pra acreditar?
Sei que todo mundo tem uma lista gigante de virtudes, mas quanto mais velha fico, mais privilegio a bondade. Quero pessoas de bom coração perto de mim.
Tenho tido problemas na hora de dormir. Eu sinto falta de desejar coisas bobas, coisas do tipo ter uma piscina cheia de jujubas e mm´s no fundo de casa. Lembra do dia em que eu te contei que sonhava em morar no quarteirão da escola, só pra poder acordar cinco minutos antes da aula começar?
Tenho a impressão de que, de um modo geral, tá mais difícil de amar e de confiar. Eu sinto falta daquela época boa em que, pra alguém gostar da gente, bastava chegar bem pertinho e dividir o brinquedo. A gente dizia o nome, emprestava o giz de cera, repartia o chiclete no dente e, com as mãos, partia o chocolate. Quer brincar na minha casa depois do colégio? Pronto. Nascia uma amizade.
E não importava se o amiguinho morava longe, se frequentava o mesmo clube, se gostava das mesmas coisas ou se usava roupas finas. Não fazia diferença o fato dele ser loiro, moreno, careca, cabeludo, rei, ladrão, polícia ou capitão.
Porque a gente sentava ao lado dos novos amigos e falava sobre nuvens, desenhos, doces e jogos, e isso tudo sem julgar, sem calar e sem mandar.
Porque em meio às canetinhas coloridas e às tesouras sem ponta existiam cartas e bilhetinhos caprichados na sinceridade e nas dobraduras.
Porque a gente fazia o que sentia que tinha que fazer, e não o que deveria.
Porque não existia falta de tempo, falta de grana ou medo do futuro.
Porque união e fidelidade existiam sem que a gente soubesse o significado dessas palavras.
Porque ninguém tinha pressa pra viver e pra ser feliz.
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2 comentários:
Fodido!
Clap, clap, clap!
Sem mais...
Bom demais...
saudade, saudade.
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