*Gabriel Montechiari
Era
uma tarde na piscina, eu estava do lado de fora sem meu colete. Minha prima me
empurrou e eu não sabia nadar. Lembro de me sentir alarmado, mas não com medo,
e dos azulejos. Não sei quanto tempo demorou até a Jane me tirar da água. A
macaca Jane. Ela era uma menina de dezessete anos que veio do Maranhão para
morar na casa de um casal de jovens e seus dois filhos. Ela cuidava da gente
enquanto nós muito provavelmente externalizávamos um preconceito tão arraigado
que parecia nato.
Apesar de
nós, Jane era vaidosa. O suficiente para arriscar o excelente emprego pegando
emprestadas algumas roupas da patroa. O que rendeu a ela uma demissão. De noite
eu acordei com barulho vindo lá de baixo, onde ficava a garagem, a lavanderia e
o quarto da empregada. Desci as escadas de madeira, andei meia dúzia de passos
no piso de ardósia e vi. Meu pai carregava o corpo trêmulo da Jane para o carro.
Ela tinha tentado se matar bebendo Creolina. Lembro de me sentir confuso, mas
não com medo, e da ironia.