Fuga


Caçando por aí, costumo andar atrás de meninas que estão sozinhas pelas ruas. Acho que sinto o cheiro delas. Costumo dizer aos meus amigos no bar: “as que estão mais fedidas, são as que mais querem sexo fácil”. Acho que sou um homem bom. Acordo todos os dias cedo. Quem madruga, dizem, Deus ajuda. Acordo todos os dias cedo e não peço ajuda pra ninguém. Acordo todo dia cedo pra fumar meu primeiro cigarro. É quase uma doença. Se eu acordo cedo e percebo que fumei todos os meus cigarros na noite anterior, fico bravo. Meu dia estraga. Tenho que ir na padaria comprar cigarro. É quando resolvo trocar o cafezinho pela pinga, que me desce rasgando, a danada. Se estou com fome, como um ovo cozido e fica tudo certo. Quando chega de noite, inicio minha caça. Pego minha magrela e vou andando pelas ruas de bairros afastados da minha casa. Todo dia, consigo alguma coisa. Uma emoção diferente. Uma história nova pra contar no bar do Jair. Ontem mesmo, acho que nunca me senti tão realizado, sexualmente falando. Persegui uma gorda, jovem ainda, que viu graça no meu tesão por ela. Ficamos amigos. Assim foi mais fácil. Conversamos uns dez minutos, meu recorde em diálogo com mulheres. Disse a ela das minhas características melhores. Vocês sabem: o velho papo que eu faço isso, que eu sou aquilo, que o meu mede tanto. Enfim. Balela. Senti que ela gostava do papo sacana. A coitada devia estar há alguns anos sem ver homem, não é possível. Depois disso, ela me levou pra um terreno baldio que ficava perto de sua casa. Fizemos amor gostoso, como nunca. Acho que me apaixonei. É por isso mesmo que hoje, logo pela manhã, passei na padaria, tomei meu primeiro pingão e comprei dois maços de cigarro pra vazar daqui de Maringá. Vou passar uns tempos na casa da minha mãe, em Santa Fé, tentando esquecer aquela mulher lá no bar do Vargas, 24 horas por dia bebendo, jogando sinuca e contando vantagem pros parceiros do truco, aqueles velhos tolos. Pensando bem, meu único erro, naquele dia, foi anotar o telefone dela no meu celular. Nunca faço isso. Não quero compromissos. Peguei o telefone só pra não ficar chato, mas agora não consigo apagar da memória o bendito número. Deus me livre de ligar pra ela. Guarda minha bicicleta lá no fundo e tranca com o cadeado. Meu busão chegou. Se cuida malandro. Um abraço. Fui.

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